Nina Simone fala sobre como lidava com racismo, arte e violência

“É muito inferno, muita violência, mas agora me sinto viva como em nenhum outro momento da minha vida. Eu tenho a chance de viver como eu sonhava.” - Nina Simone
O canal Blank on blank costuma animar trechos de entrevistas criando incríveis vídeos para o Youtube. Dessa vez a fonte foi uma entrevista pouco conhecida que a cantora norte americana Nina Simone concedeu à Lilian Terry nos anos 60. A entrevista em inglês foi transmitida apenas na Itália naquela época e agora temos acesso a Nina Simone discutindo assuntos que lhe diziam respeito como artista, mãe e mulher negra.
Quando Anne-Marie Willis diz que “nós fazemos o design de nosso mundo, enquanto nosso mundo age de volta sobre nós e nosso próprio design”, os exemplos mais óbvios serão sempre os que nós já temos por atividades relacionadas ao design. Entre esses, o mundo da moda reflete diretamente esse princípio, especialmente quando dito por Nina Simone:
“Eu amo roupa. Sim, adoro. Porque se você sair por ai vestida como você quer ser vista, cria-se uma atmosfera antes mesmo de abrir a boca. E às vezes isso é o bastante para colocar sua audiência no ânimo certo, do jeito que você os quer.
Como no ano passado. Eu usei o mesmo vestido por todo ano, em todos os lugares que fui. Eu queria que as pessoas lembrassem de mim de uma certa maneira. Eu facilitei para mim.
[…]
Quando eu subia no palco, a ilusão era de que eu estava nua. Eu amei aquilo. Isso sempre meio que chocava as pessoas o bastante para que eu as ganhasse imediatamente.”
A entrevistadora faz alusão à última música interpretada por Nina Simone em seu show. “The King of love is dead” foi composta pelo baixista de sua banda, Gene Taylor, um dia após o assassinato de Martin Luther King. Nessa música, como Nina Simone expõe, o clímax é também o final da música. Após questionar o que vai acontecer agora que mataram o Dr. King a música se interrompe. Essa interrupção musical no auge representa o estado da luta por igualdade nos EUA, uma incógnita após uma escalada.
Em meio à segregação e vendo pessoas morrerem vítimas do preconceito por causa da cor de suas peles, Nina Simone ainda conseguia ser otimista. Não por ver um mundo bom, mas por saber que a sua luta valia a pena e as conquistas também deviam servir como alento.
“Nina S.: Esse é um bom momento para as pessoas negras viverem. É muito inferno, muita violência, mas agora me sinto viva como em nenhum outro momento da minha vida. Eu tenho a chance de viver como eu sonhava.
Entrevistadora: Você acha que sua filha viverá os anos revolucionários?
Nina S.: Não sei, querida. O que quer que aconteça, ela terá orgulho de ser negra. Ela vai ter a chance de ser mais do que alguém acompanhando as coisas pelo lado de fora, como tem sido para a maioria de nós e para meus pais antes de mim. Porém ela pode acabar vendo banhos de sangue que eu mal consigo imaginar. Não tenho como conhecer essa evolução. O ciclo continua. É a nossa hora.”
Nós que estamos vivos para ver o futuro que ela não pôde prever sabemos que o sangue ainda corre e o preconceito se infiltra. Todavia, se formos um pouco mais como Nina Simone, fortes e com algum otimismo, talvez algo sirva de consolo mesmo quando o futuro é incerto.
Veja a animação completa:
Via Open Culture
