5 trechos: Literatura fantástica antiga

Dando continuidade à importância das antologias, Marcelo Cid organizou a “Antologia fantástica da literatura antiga”, uma empreitada que se relaciona pelo tema com os famosos esforços de Borges, Casares e Ocampo. Ainda que o trabalho de Cid tenha seu olhar voltado para os grandes clássicos e textos antigos, garimpando ali o que em suas palavras é o “elemento estranho”, o “desconforto” que acompanha o fantástico, ele criou uma obra singular a partir dos retalhos de um mundo muito diferente e também ainda muito próximo do nosso.
O livro foi publicado pela Ateliê editorial e seleciono aqui 5 curtos trechos que compõem o incrível painel criado pelas mais de 250 histórias presentes nessa edição.
Epitáfio (apócrifo) de Assurbanipal
“Lembra-te de que és mortal e faze-te feliz gozando banquetes – nada te será útil quando estiveres morto. Pois agora sou pó, embora tenha sido o rei da grande Nínive. O que de fato é meu foi o que comi, minha diversão e o prazer que tive na cama – enquanto que minha famosa riqueza dispersou-se e hoje é nada. Esse é um conselho sensato para os vivos. Quem porém o preferir, que sem descanso procure seu ouro. ”
Diôgenes e a filosofia
“A alguém que lhe falou: “Não sabes coisa alguma e te fazes de filósofo”, sua resposta foi: “Aspirar à filosofia também é filosofar”.”
Augusto vê Alexandre
“Também por esse tempo ordenou que lhe trouxessem o sarcófago com o corpo de Alexandre, o Grande. Após mirá-lo por uns instantes, deu mostras de seu respeito depositando nele uma coroa de ouro e decorando-o com flores. Perguntado então se desejava também ver a tumba dos Ptolomeus, respondeu: “Meu desejo era ver um rei, não cadáveres”.”
Uma bela morte
“Contudo, o exemplo mais invejável de uma morte tranquila nos legaram os antigos no de Marco Ofílio Hílaro. Era ator cômico, e tendo no dia de seu aniversário experimentado grande sucesso junto ao público, ofereceu à noite um banquete aos amigos. Sendo servida a comida, pediu para si uma sopa. Em seguida tomou em mãos a máscara que havia usado em sua apresentação; enquanto a admirava, colocou nela a coroa [de louros] que trazia na cabeça, e demorou-se muito nesse gesto, por fim sem mais mover-se, até que um dos convivas ao lado tentou avisá-lo de que sua sopa esfriava.”
A imortalidade do poeta
“Ergui monumento mais perene
do que o bronze, maior do que a
imponência das pirâmides. Nem
as chuvas erosivas, nem o sopro forte
do Aquilão, nem a série inumerável
dos milênios que virão
poderão, algum dia, destruí-lo.
Não morrerei inteiro: algo meu
à morte mesma não estará sujeito.”

Felipe V. Almeida