5 trechos para te fazer ler: A invenção de Morel, Bioy Casares

5 trechos para te fazer ler: A invenção de Morel, Bioy Casares

Sétimo livro de Bioy Casares, mas para ele esse foi o livro que deu início à sua carreira literária. Em “A invenção de Morel” um fugitivo se refugia em uma ilha deserta onde há um antigo museu, até que certo dia a ilha recebe visitantes com os qual ele não contava. É dessa premissa simples que Casares distorce a todo momento os limites entre sanidade e loucura, real e imaginário.

1

Percorri as estantes buscando ajuda para certas pesquisas que o processo interrompeu e que tentei retomar na solidão da ilha (creio que perdemos a imortalidade porque a resistência à morte não evoluiu; seus aperfeiçoamentos insistem na primeira ideia, rudimentar: manter vivo o corpo inteiro. Só se deveria buscar a conservação daquilo que interessa à consciência).
— Página 12

2

Talvez todo esse empenho higiênico em não esperar seja um pouco ridículo. Não esperar da vida, para não arriscá-la; dar-se por morto, para não morrer. De repente isso me pareceu um letargo pavoroso, inquietíssimo; quero que acabe.
— Página 20

3

O que sinto é desagradável. Parece-me que há muito sabia do alcance funesto de meus atos e que insisti com frivolidade e obstinação... Poderia ter mantido essa conduta em um sonho, na loucura... Na sesta de hoje, como um comentário simbólico e antecipado, tive um sonho: enquanto jogava uma partida de croquet, soube que a ação de meu jogo estava matando um homem. Depois eu mesmo era, irremediavelmente, esse homem.
— Página 28

4

Nossos hábitos pressupõem uma maneira de as coisas acontecerem, uma vaga coerência do mundo. Agora a realidade se me apresenta alterada, irreal. Quando um homem desperta ou morre, demora a se desvencilhar dos terrores do sonho, das preocupações e das manias da vida.
— Página 53

5

Um homem solitário não pode fazer máquinas nem fixar visões, salvo na forma truncada de escrevê-las ou desenhá-las, para outros, mais afortunados.
— Página 67

Referência: Adolfo Bioy Casares. A invenção de Morel. Tradução: Sérgio Molina. Folha de São Paulo, 1ª edição.